Outra hora

Às vezes paro para pensar o que seria de nós se os tempos mudassem. Se de repente, vinte anos à frente estivéssemos. Ou quarenta anos atrás. Viver cinco minutos que não são os que vivemos agora.

A vida seria tão diferente? Nós seríamos diferentes?

Em uma questão de segundos presentes, acredito que tudo seria imensamente diferente, assim eu agora não sou a que fui no passado e não serei daqui para frente.

Rever as escolhas, os caminhos tomados, as palavras lançadas. Será que o mundo seria mesmo outro?

Existe aquela teoria que diz que mesmo que tudo seja diferente, o resultado sempre será o mesmo. Estremeço só de pensar na clausura da imutabilidade. Nunca mudar? Nunca escolher outra coisa, outra pessoa, nunca mudar o olhar?

Há quem não se arrependa de nada, que revendo o passado, o revive de modo igual. Há, também, quem seja apenas arrependimentos. Pedra sobre pedra não fica nas ruínas do passado.

Olho atenta passados e futuros alheios, desejando que meu presente seja a união do melhor de ambos, mas me esqueço que o presente é feito apenas do meu próprio futuro, do meu próprio passado. Que os erros e acertos dos outros não servem para mim, como uma criança que se veste de lençol, nada vai servir.

Em pouco entrar e sair de ares dos pulmões, o que veio e o que virá se alteram, dependendo dos olhos que estão de frente aos meus.

Tudo muda, é a pupila quem manda. Nem o coração, nem a mente. A pupila apenas, com seu choque em outras pupilas é capaz de alterar realidade vivida ou não. Tudo mora no que o choque entre pupilas produz.

Por isso, para ver o passado, para ver o futuro, entender o presente, basta algumas pupilas que estejam perto de você. Elas lhe dirão o que é preciso saber sobre o tempo.

Em outras horas, eu desejava ver apenas o tempo, a construção dele. Mas hoje, quero algo muito maior, muito mais profundo do que as frágeis palavras que guardo. Muito melhor que os limitados adjetivos que tentamos inventar. Em outras horas, eu quis outras coisas. Mas agora, procuro apenas o universo que um toque de pupilas, com suas danças circulares, é capaz de criar.

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